Redesign da Identidade Visual do Flamengo feito por professor do DAD
O professor do DAD, Fabio Lopez, foi o designer responsável pelo projeto de redesign da identidade visual do Clube de Regatas do Flamengo (CRF), com participação do ex-aluno do DAD, Eduardo Franco, ex-designer do clube. No dia 10 de abril foram apresentados oficialmente os símbolos do Flamengo que passaram por reformulação e modernização.
O amplo projeto de redesign foi desenvolvido em 2 etapas: ajuste e evolução, e a entrega foi concluída com a criação de um manual de marca. O processo iniciou com uma análise detalhada dos principais símbolos do Flamengo, tendo como foco e ponto de partida o monograma CRF, em função de sua importância na esfera esportiva do clube. O segundo passo dessa etapa foi analisar o escudo de esportes terrestres do Flamengo, onde o monograma CRF está aplicado. E para encerrar essa etapa de ajuste, o professor analisou o escudo de esportes aquáticos, um dos elementos mais tradicionais associado às origens do clube de regatas.
Segundo Fabio, as modificações realizadas neste último escudo, mais visíveis e contundentes, conduziram o projeto naturalmente para a fase seguinte de evolução. Nesta etapa, cada símbolo, que já havia sido ajustado em aspectos técnicos, passou por um processo de modernização, sem descaracterizar um conjunto tão tradicional e importante para sua torcida. A etapa final do trabalho consistiu na criação da documentação de uso do novo padrão, onde a participação de Eduardo, como designer do clube na época, foi fundamental.
O DAD entrou em contato com o professor para que ele falasse um pouco mais sobre o projeto:
Qual foi seu maior desafio ao refazer os principais símbolos do Flamengo?
Acho que foram vários desafios, difícil escolher o maior. Um deles foi definir até onde era possível avançar sem descaracterizar os símbolos em uso. Tradição e história são conceitos muito valorizados no ambiente do futebol; ao mesmo tempo o Flamengo vem procurando modernizar sua gestão e se apresentar de maneira mais dinâmica no mercado, junto à parceiros, imprensa e torcida. Nós sabíamos que buscar esse balanço seria fundamental, não só para a aprovação do projeto nas esferas políticas da instituição, como na própria recepção da torcida ao novo conjunto proposto. Outro desafio foi lidar com o fato de que para uma parte da torcida os ajustes seriam imperceptíveis, para outra excessivos e para nós fundamental: como alinhar essa comunicação tão díspare em termos de expectativa? E ainda: que o desempenho do time de futebol – e de vários outros aspectos completamente alheios ao projeto – poderia afetar bastante seu caminho, da proposta à implementação, passando pelas etapas de aprovação e recepção da torcida. Esse é um aspecto muito pouco comum à nossa atividade profissional, pelo menos na maior parte do tempo. Do ponto de vista técnico, duas tarefas foram extremamente desafiadoras: a própria solução gráfica do monograma CRF, cuja constituição entrelaçada torna qualquer ajuste um jogo de xadrez, e algumas definições do manual de marca, devido à extensão e complexidade de uso dos símbolos em questão.
Eduardo Franco, designer do Flamengo que te auxiliou nesse projeto, foi seu ex-aluno na graduação da PUC-Rio. Como foi reencontrá-lo nessa situação?
Foi uma grande alegria pessoal e profissional, tanto por retomar o contato com um ex-aluno excelente, como por poder constatar que Eduardo é hoje um profissional muito qualificado e talentoso – o que, obviamente, passa pela boa formação que recebeu na PUC-Rio. Trabalhamos por esse objetivo em sala de aula, e comprovar isso em circunstâncias tão especiais foi extremamente gratificante. Espero seguir acompanhando sua carreira de perto, quem sabe colega em um novo projeto ou em sala de aula, já que Eduardo está cursando um mestrado e tem grande vocação para ensino e pesquisa. Estendo esse desejo a todos meus ex-alunos, ciente de que não tenho como dar conta de tanto projeto (risos).
Por você ser flamenguista, você considera esse trabalho um dos mais prazerosos que você já fez?
Com certeza, e pelo mesmo motivo um dos mais estressantes também – o que parece contraditório, mas não é. Sabe aquela expressão ‘você e toda a torcida do Flamengo’, que usamos para dizer que algo não é lá muito especial, já que metade do mundo quer ou fez a mesma coisa? Pois é, nesse caso era pra valer… Imagine a responsabilidade de modificar algo tão importante para tantas pessoas, que se relacionam com o Flamengo e seus símbolos de maneira totalmente passional. Some ainda todas as pessoas que odeiam o Flamengo ou que o conhecem e terão alguma opinião a respeito… não sobrou muita gente de fora, né? Obviamente que a aprovação das pessoas envolvidas no clube ajudava a perceber que trilhávamos um bom caminho, mas ainda assim era uma pressão diferente de qualquer outro trabalho que já realizei na carreira. Talvez a criação do logotipo dos Jogos Olímpicos ‘Rio 2016’ tenha ajudado a lidar com esse aspecto de responsabilidade e pertencimento coletivo, mas a intensidade e o impacto eram totalmente diferentes. Por outro lado, meu envolvimento pessoal com o Flamengo fazia com que tudo fosse muito especial, incrível eu diria. Saber que aquilo estava acontecendo pra valer, e que em poucos meses, semanas e depois dias estaríamos escrevendo um capítulo marcante na história do meu clube do coração.
Você acredita que o resultado vai agradar a maioria da torcida?
Ao longo do processo houveram alguns vazamentos (na etapa de produção, não por parte do clube) e isso acabou nos ajudando a ter uma leitura inicial da reação da torcida – pelo menos nas redes sociais e na mídia, por onde circulou. Levando em consideração que um vazamento não é uma apresentação planejada, mas uma imagem extraviada que acaba circulando sem qualquer explicação, tivemos uma primeira resposta bastante positiva. Uma parte da torcida estava apreensiva de que se tratasse de uma mudança radical, e se acalmou. De maneira geral, o projeto foi muito bem recebido até aqui, e acredito que o fato de ter sido realizado por designers com capacidade técnica para o trabalho e torcedores do time fez bastante diferença. Temos recebido alguns feedbacks muito importantes e positivos de diversos parceiros desse projeto, bem como de funcionários do clube, imprensa especializada, licenciados, mídia flamenguista, atletas, torcedores e profissionais de criação. Acertamos.
Você acredita que a modernização dos símbolos vai virar uma tendência nos clubes?
A modernização realizada sobre os símbolos do clube ocorreu, na realidade, como uma consequência natural de um projeto maior de organização, padronização e melhoria na gestão da identidade visual do Flamengo – que por sua vez também é consequência do processo de profissionalização pelo qual o clube vem passando. Pela dimensão e escala do Flamengo, um clube nacional e de massa, acreditamos que o projeto possa sim ter algum impacto positivo no mercado, servindo como referência neste aspecto em particular da gestão dos clubes (percepção de mercado, parcerias, licenciamento e novas oportunidades). Por essa ótica, muitos clubes estão estacionados no tempo há quase 40 anos, enquanto outros esboçaram pequenos esforços neste período sem a mesma ousadia, profundidade e seriedade com que tocamos o projeto no Flamengo. Por gostar de futebol e acreditar que todos ganharíamos com um ambiente mais profissional, inclusive a classe dos designers, fico na torcida de que esse projeto possa estimular outras iniciativas semelhantes – em clubes que são adversários na esfera esportiva, mas parceiros em todo resto.