Professor do DAD é o responsável técnico da exposição Dreamworks Animation
José Roberto Sanseverino, professor do DAD, faz parte da equipe de Coordenação da Instalação Técnica da parte audiovisual da exposição Dreamworks Animation – Uma Jornada do Esboço à Tela, ocorrendo no CCBB até o dia 15 de abril.
Com mais de 400 itens de acervo, como desenhos raros, storyboards, fotografias, pôsteres e muito mais de algumas das animações mais famosas do estúdio, a exibição é baseada em tecnologia de interatividade. É uma experiência sensorial, que une tecnologia de ponta – cúpulas de som Domesounds que impedem que o som de uma TV interfira com outra, e conjuntos de projeção mapeada (imagens em movimento gerenciadas pelo after effects) são alguns exemplos – com design e animação.
O interesse na mostra da Dreamworks tem sido maior que o esperado, com cerca de 150.000 visitantes por semana. A exposição mostra como é feito o processo criativo de filmes desse estúdio de animação, desde os primeiros rabiscos até o produto final.
Conversamos com o professor Sanseverino sobre sua participação na montagem da exposição, e as dificuldades encontradas no caminho.
P: O que consiste numa instalação técnica de audiovisual? Qual foi seu trabalho específico nessa exposição?
S: Trata-se de uma exposição tecnológica, diferente de uma exposição de quadros, de artes, de pintura; é interativa. Então ela tem, em quase todos os setores, muita participação do público através de tecnologia, telas, computadores de exibição e projeções.
Essa exposição está baseada no conteúdo de filmes de animações feitas pela Dreamworks, um dos grandes estúdios de animação do mundo, a antiga produtora do Spielberg. Ela cedeu todo material dela para um museu da Austrália que é o curador da exposição. Australian Center For the Moving Image (ACMI) é muito rígido, considerado um dos museus mais criteriosos em relação a imagem em movimento. Eles desenvolveram um modelo de exposição, envolvendo 17 projeções, 24 telas de TV, monitores de computador, 9 estações de computação interativa com telas touch, 10 unidades de animação de alto valor, e uma experiência interativa com uma tela de 15 metros, 180 graus, com 4 projetores e 16 canais de som. Essa experiência é uma coisa nova em termos de museu no Brasil, nunca teve nada assim parecido, é trabalhosa, e é difícil a realização e operação.
P: Essa instalação foi sua responsabilidade? Como isso funcionou dentro do museu?
S: É um projeto que – essa exposição já teve na Austrália, já teve em Montreal, no Canadá, já teve em Taiwan – para cada local leva em consideração o percurso do público dentro da exposição, a adaptação da tecnologia aos espaços e a manutenção do objetivo, que é introduzir passo a passo o conceito de animação. Primeiro a gente vai pensar numa ideia, depois esboçar essa ideia, transformar ela em traços, de traços em 2D, de 2D em 3D. A gente vai fazer a maquete para trabalhar a relação de espaço e tempo e depois a gente faz os moldes dos personagens em argila, depois de existir esses personagens tem que criar a história e depois contextualizá-los. Também tem os objetos originais, desenhos de todos os artistas plásticos que trabalharam nesses filmes. Para você entender são 30 toneladas de equipamento e material que chegou de Montreal. É um susto!
P: Pra fazer essa instalação técnica, teve alguma dificuldade específica, pelo CCBB ser um edifício bem antigo?
S: Sim, o CCBB é um edifício de 1890, com 300 regras, ótimas, porque ele é muito bem mantido. Muito rígido. Não pode botar um prego na parede, nada pode andar em cima da madeira, tem horários, o alarme só pode ser desligado de Brasília. Mas isso deu suporte pra que essa exposição venha acontecer, mas muito trabalhoso. Depois que saiu a última exposição eu tive 15 dias, que é um tempo ridículo, para construir a construção cenográfica, e o resto do equipamento só pode entrar depois que a construção cenográfica estiver pronta. Tem aproximadamente 3 km de fio pelas paredes.
P: Vocês montaram em quanto tempo?
S: Em 15 dias tudo da construção cenográfica, mas a parte de equipamento praticamente foi montada em 8 ou 9 dias. Dois técnicos da Austrália, cinco técnicos brasileiros, e eu coordenando essas duas equipes, inclusive com problemas de língua. Foi uma relação muito boa com o museu. Nunca tinha trabalhado num nível tão alto de exigência de qualidade, e eu trabalhei em uma empresa muito forte de controle de qualidade que foi a TV Globo. Mas o museu era assim, se você vai pegar numa maquete, precisa de luvas, tem que medir a temperatura do ar para não ter choque térmico, ninguém pode usar perfume, fazer um buraco na parede nem pensar. A dificuldade é adequar equipamentos que vem da Austrália com algumas equipamentos que a gente já teria aqui no Brasil, e pro CCBB é uma novidade ter uma exposição baseada em tecnologia. O ligar da exposição demora 35 minutos e o desligar 1 hora.
P: No decorrer da exposição teve algum problema específico ou está correndo dentro do esperado?
S: O problema foi a surpresa da quantidade de público. 51 mil pessoas em um andar de um museu que tem uma escada pra subir, 2 elevadores e uma escada pra descer, já é uma logística complicada. Agora essas pessoas querem interagir, querem tocar, querem fazer selfies. Uma das paredes andou 10/15 centímetros, parede cenográfica fixada no chão andou porque tinha um grupo de crianças fazendo selfies e ela se deslocou. Existem mesas com projeções mapeadas onde tem uma série de objetos brancos, que a imagem da vida a esses objetos, que as pessoas não resistem a tocar, tem um telefone celular que é todo branco, aí ele fica vivo e a pessoa pega pra ter certeza, isso é um problema, porque desarruma. Fones de ouvidos, 4 quebrados por dia, 70 dias, 280 fones no total, porque as pessoas compartilham.
O térreo tem uma área chamada Dragonfly (Voo do Dragão), que é uma experiência sensorial, e tem o Animation Desk que são 10 computadores de animação de última geração que formam uma fila gigante e cada pessoa tem direito a 20 minutos. Nós contratamos 35 monitores que fazem turnos para acompanhar essa desk, eles fizeram um treinamento e tem um tutorial. Todas as entrevistas e todas as informações que tem alguma coisa em inglês foram legendadas por norma do CCBB, então não tem uma coisa em inglês, uma palavra, se tiver stop, tem que estar com uma legenda. Isso foi bacana porque você tem a nossa língua presente. Inclusive o Vôo do Dragão tem 4 ou 5 frases no início e a gente fez uma tela em português e uma tela em inglês.
O meu trabalho é uma mistura de um profissional que trabalha com imagem há muito tempo e engenharia eletrônica, da imagem. Foi uma união boa das soluções de engenharia sem esquecer da estética, da linguagem. Aquela ideia que o animador chega lá e faz o desenho e que o computador é que faz, isso não é verdade.
A curadoria foi realizada com uma colaboração do Australian Centre for the Moving Image e a DreamWorks Animation Studio, a entrada é franca. O próximo destino da exposição já está determinado, será no CCBB de Belo Horizonte, e estará disponível de 15 de maio a 19 de julho.
Fotos: Um Grupo