Exposição Fábrica de Ratoeiras Concorde

O professor Carlos Eduardo Felix da Costa (Cadu) inaugura no dia 4 de setembro, às 19h, a exposição “Fábrica de Ratoeiras Concorde” na Anita Schwartz Galeria, com perto de 30 trabalhos inéditos, entre desenhos, pinturas, esculturas e duas obras interativas. A exposição fica aberta para visitação de 05 de setembro a 26 de outubro, entrada gratuita.

No espaço do piso térreo estão as obras das séries “Fábrica de Ratoeiras Concorde”, e as interativas “Chinese Whispers” e “Pantógrafo”. No segundo andar da galeria ficam quatro séries: “Ganga”, “Craca Ganga” (com Virgilio Bahde), “Ágata” e “Walden”.

A série que dá nome à exposição, “Fábrica de Ratoeiras Concorde” é um conjunto de nove pinturas sobre papel, em tamanhos que variam entre 1,90m x 1,50m e 1,80m x 1,50m. Partindo de dois conceitos distintos, uma ratoeira e o avião Concorde, o artista constrói uma imagem poética, “que leva a uma série de associações, uma relação entre duas criações do engenho humano”. “Uma forma pedestre, um objeto rudimentar de caça para controle de pragas, e a outra uma aeronave, uma desobediência aos deuses, da ambição industrial”, comenta, acrescentando que “os dois cedo ou tarde acabaram ficando obsoletos”. Ele busca criar imagens “que têm a ver tanto com esquemas de distorção de espaço, que sugerem circuitos fechados, gaiolas, grades de onde fica difícil escapar”. “São arapucas visuais, em que se pode ficar preso ou escapar, se for rápido como um Concorde…”. “São diagramas matemáticos de distorção do espaço, dialogam com pinceladas abstratas, em um estranho convívio entre ordem e caos, que ora oferecem volume ao conjunto, ora o planificam”, observa.

Na obra interativa “Chinese Whisper”, ou “sussurro chinês”, a brincadeira popular conhecida entre nós como “telefone sem fio”, o público poderá movimentar um lápis acoplado a um inventivo sistema criado pelo artista que reproduz o gesto feito, o desenho, resultando versões aumentadas, diminuídas ou distorcidas do desenho original. “Tanto é escultura, gesto performático, como partitura de desenho, que usa este lugar que é eleito como a superfície do trabalho, a mesa, para pensar versões, distorções, reduções, ampliações, de imagem e de discurso”, diz.

Neste outro trabalho interativo, o “Pantógrafo” consiste em uma mesa de 2m x 2m, em que o público fará um pequeno desenho em um canto, e no lado oposto surgirá uma imagem ampliada em oito vezes. O atrito provocado pela ação da máquina, do bastão com a mesa, “que pode lembrar uma batuta de maestro”, provoca um som, que para o artista é “como se fosse o próprio instrumento musical imprimindo a partitura dele no momento de produção da música”. “Mais uma vez se trata de uma situação híbrida, em que se tem gesto, desenho, escultura, sonoridade, convivendo”, destaca Cadu. A palavra pantógrafo vem do grego pantos, que significa “tudo”, mais graphein, “escrever”, e é um aparelho utilizado para transferir e redimensionar figuras, inventado possivelmente pelo astrônomo e jesuíta alemão Christoph Scheiner (1575-1650) em 1603.

A série “Ganga”, feita em parceria com o artista e joalheiro Virgilio Bahde, são dez esculturas em que se explorou o processo de galvanização, em que o metal é submetido a uma solução salina, eletrificada, e se dissolve, migrando por indução para outro lugar. Dez ganchos de metal passaram por demorados procedimentos que levaram meses, e passaram por esse processo, ganhando aglutinações que se assemelham a corais. Cadu lembra que na mitologia grega quando Perseu corta a cabeça da Medusa e a arrasta sobre as águas do mar, surgem os corais, “que são as pedras do mar que vão ornar os cachos das ninfas”. “Aquela que tudo transformava em pedra no seu último gesto produz beleza”, comenta. Há um ano o artista vem se interessando por questões de diluição, indução e coagulação, que são os princípios básicos da alquimia. Derivando de sua conhecida pesquisa sobre a paisagem e a passagem do tempo, o artista passou a explorar características telúricas dos elementos. Ele explica que “ganga” é o nome dado na mineração para as impurezas presentes no metal que se pretende refinar. Sua origem etimológica é matriz africana, e advém do termo “nganga”, que denomina o feiticeiro chefe dos antigos terreiros cabindas. Nas dez esculturas expostas, o público verá a progressiva metamorfose sofrida pelo metal no processo do trabalho.

Cadu lembra que seu sempre tem “um dado de diluição de autoria”. “Com Virgilio Bahde, partilhamos o próprio procedimento, a operação técnica, e o resultado do trabalho. A força vem daí. Em épocas de Medusa, temos que fazer os nossos escudos de Perseu. Arte é isso. É um escudo para a gente não olhar diretamente para o problema, mas para se olhar de lado, nos protegendo, com nossa esfera imunossimbólica, porque o real petrifica”, afirma.

“Craca Ganga”, também em parceria com Virgilio Bahde, é uma série de oito esculturas feitas em madeira, níquel, cobre e incrustação de pedras semipreciosas brutas, como ônix, malaquita, ágata, quartzo fumê e pirita. “É um mimetismo de construção entre algo que é mineral, vegetal, oceânico, marítimo, em um raciocínio mais formal de construção compartilhada, com etapas divididas no processo. No final temos um jardim mineral sobre tronco de árvores que são metalizados”, conta.

“Ágata” é uma série de 14 trabalhos de pintura em óleo sobre chapas de alumínio em tamanhos variados entre 60cm x 60cm e 25cm x 25cm, que recebem aplicação de lâminas de pedras semipreciosas brutas, como ágata, granada, quartzo, zurita e malaquita. As obras intrigam o espectador, por parecerem uma colagem, e não se saber ao certo onde está a pintura, se por baixo ou por cima das pedras. “A pessoa não sabe se foi feito à mão, ou se já estava pronto, e há uma certa relação óleo/água que embaralha o olhar”, diz o artista.

“Walden” é um conjunto de três gravuras relevo sobre papel, formando um única peça, feitas a partir de páginas do livro “Walden ou A Vida nos Bosques” (1854), autobiografia do escritor transcendentalista Henry David Thoreau (1817-1862). A publicação acompanhou Cadu durante o ano em que residiu, a partir do primeiro dia do inverno de 2012, em uma cabana construída por ele mesmo, na região serrana do Rio de Janeiro. O artista queria recriar nas gravuras os caminhos percorridos pelos cupins, que devoraram as folhas de papel. Para isso, se dedicou a dois anos de pesquisa, para criar um sistema adequado, com um movimento constante para que o ácido criasse nas chapas de cobre as áreas determinadas. “De alguma forma, este trabalho reproduz o processo presente nas outras obras com metal, como também o processo de corrosão que o papel passou quando o cupim comeu, recriando este caminho”, destaca. Nesta obra, o artista trabalhou com o mestre gravador Agustinho Coradello, requisitado por artistas como Beatriz Milhazes, Cildo, Thereza Miranda, entre outros grandes nomes.

Anita Schwartz Galeria de Arte, Baixo Gávea, Rio
Rua José Roberto Macedo Soares, 30, Gávea, 22470-100, Rio de Janeiro
Horário: 10h às 20h, de segunda a sexta, e das 12h às 18h, aos sábados