Exposição Null Object

O Solar Grandjean de Montigny da PUC-Rio recebe a exposição Null Object de Adriano Motta com abertura dia 05 de fevereiro, a partir das 17h.

Na construção de metaversos, um “objeto nulo” é um objeto sem valor referenciado ou com comportamento neutro (null) definido. Seu propósito em CGI (imaginário gerado por computação) é definir parâmetros variados não desempenhando presença estrutural na composição. O Null Object participa comandando elementos, sem que apresente existência residual na cena. No ambiente de programação, ele desempenha papel equivalente aos objetos digitais visíveis, que a cada dia se tornam mais presentes na interface com o real. Na indústria e no comércio, esses objetos nos indicam o que é estar vivo nos tempos atuais. Assets de games, peças publicitárias, design gráfico e visualizações arquitetônicas detêm tanto ou mais concretude quanto as coisas do mundo. Aquelas que usamos para sentar, deitar, pisar, vestir.

Blocos de informação se combinam para construir módulos, que podem representar objetos ou procedimentos. Particularmente, em CGI tridimensional (computação 3D), objetos são comumente chamados de “geometrias”, pois são malhas de polígonos conectados em um espaço com altura, largura e profundidade. As superfícies desses polígonos são revestidas por conjuntos de mapas de pixels (bitmap data) que podem determinar atributos diversos, como cor, brilho, porosidade, luminosidade, transparência. Em outros módulos de operação, o ambiente oferece a possibilidade de simular fielmente fenômenos físicos – luz e sombras, peso e gravidade, consistência e elasticidade. É possível submeter água, terra, fogo e ar a variações possíveis e impossíveis – luz negativa, fumaça estampada, gravidade inversa, para citar alguns exemplos – , no que convencionamos chamar de mundo concreto.

São objetos e fenômenos que existem. No espaço e no tempo. Manipulá-los é movê-los: orbitar, aumentar, sobrepor, deformar, duplicar, deletar. São resultados de operações com nomes de difícil tradução: collision, soft body, constraint, boolean, decimate, remesh, cloth simulation, dynamic paint, extrude, inset, loop cut, bevel, displace etc. Ações que permitem as CGIs aproximarem-se do Gesamtkunstwerk, ou “obra de arte total”, conceito estético do Romantismo alemão do século XIX difundido pelo compositor Richard Wagner, que acreditava encontrar na tragédia grega a reunião de todas as linguagens artísticas. Práticas que hoje, além de reunirem a escultura, a pintura, a música e a dramaturgia, inclui o cinema, a colagem, a fotografia e a instalação, além de suas derivações.

O Archviz é o manual do viver no interior dessas virtualidades. Ele descreve como pessoas devem construir os espaços que ocupam e como devem habitá-los. Em Archviz o ser humano é também coisa, ponto de referência para fins meramente ilustrativos. Beckett está na gênese do Expressionismo Archviz; suas peças minimalistas são sobre humanos-coisa e os espaços que os confinam. Objetos e personagens são submetidos à libido cruel de um engenheiro perverso e misterioso, seja Deus, o caos, o diretor. Ou até mesmo (por que não?) o software. Todos os objetos em cena são tratados como entulho, poucos parecem desempenhar a função a que foram originalmente designados. Neste enredo, que a cada dia transborda do digital para a existência, Adriano escolhe produzir colisões, ajuntamentos e sobreposições, fundando estruturas em que o absurdo não é o dissonante, mas aquilo que as permite parecerem possíveis. Ou toleráveis no cotidiano. Não nos iludamos, vivemos numa simulação.

Adriano Motta, Oklahoma (EUA), 1975. Artista plástico e designer formado pela PUC-Rio, começou a carreira como ilustrador no diário carioca O Dia, em 1996. Na cidade de Nova York, onde morou de 200 a 2003, trabalhou como motion designer no setor de broadcasting da Bloomberg. Em 2003 voltou ao Rio e, paralelamente à produção artística, atuou como designer e diretor de arte. Foi diretor de marca e programador visual do Canal WooHoo. Participou de projetos de identidade visual do Festival Multiplicidade (RJ), e desenvolveu a identidade visual do Novas Frequências (RJ).

Adriano vem, ao longo dos anos, investigando os processos de produção e reprodução de imagem nos meios digitais e a cultura visual que esses processos constroem. Em sua pesquisa, costuma levar essa investigação para arenas diversas, como pintura, desenho, quadrinhos, filme, animação, sound art, net art, globos celestes, maquetes, realidade virtual etc. Participou de mostras coletivas e individuais por todo o Brasil e internacionalmente, destacando-se Wrong Bienal (2018), “Projeto Cavalo: Quadrivium” (2017/2018), Projeto Jacarandá (RJ) e Instituto Tomie Ohtake. Fez exposições individuais e coletivas nas galerias Cavalo, Mercedes Viegas e Durex. Foi indicado ao Prêmio Pipa em 2014 e em 2016. Atualmente trabalha na criação e produção de aberturas de programas da TV Globo.