Nosso luto

Uma Fênix forjou ninho em solo imperial.
Sobre as penas do uiraçu-verdadeiro, sobre Bendegó. Sobre as presas do tigre-dentes-de-sabre e sobre a pachorra da Preguiça Gigante.
Sobre as patas de Decapoda. Em casaco de intestino de foca, sobre o Rato-do-cacau, sobre o celacanto. Sha-Amun-en-su e Harsiese. Sobre Luzia.
Novamente sobre os afrescos de Pompéia. Sobre o Escudo do Uapés e toda a coleção Rondon. Sobre o Trono Daomé. E sobre as vozes do Ilê Omolu Oxum.
Brahma, Vishnu e Shiva, Prometeu, Empédocles e Nhanderuvuçú a tudo assistiram.
Que a metalurgia se converta em arômatas curativos. Todas as cinzas, todo o desespero contemplado no limite da cegueira e da iluminação, é a manifestação do clamor do tempo por renovação.
Segundo a lenda judaica, Deus escreveu as leis usando dois fogos. Um branco e um negro.
Com o fogo negro foram escritas as palavras, com o fogo branco os espaços entre as letras.
Durante sete mil anos o homem lerá as palavras, mas nos próximos sete mil aprenderá a ler os espaços em branco.
Quando esse tempo chegar, entenderemos o que se oculta no ardente labirinto das ausências.
O Departamento de Artes e Design da PUC-Rio demonstra tanto sua indignação quanto sua solidariedade no romper desta ainda incompreensível aurora.

Prof. Carlos Eduardo Felix