Prof. Carlos Eduardo Félix da Costa abre mostra em Belo Horizonte
A exposição Guirlandas para Lua do Prof. Carlos Eduardo Félix da Costa (Cadu) será inaugurada no dia 16 de agosto, das 16h às 20h, na Galeria DotArt, em Belo horizonte, Minas Gerais.
Guirlandas para Lua
Ouvi ou inventei. Já não sou capaz de remontar a origem, mas a frase era: “Há os problemas da pintura e há os problemas do pintor.” Os primeiros são para a História da Arte, os segundos as manobras pessoais para seguir. São as fábulas que criamos para depositar na tradição artesã a peculiar experiência humana. Caminhos a maior parte do tempo incertos, mas que deixam “miolos de pão” por aí.
O nome desta mostra intitula a série mais recente e conclui, arrisco dizer, um ciclo de pesquisa visual iniciado em 2018. O conjunto completo reúne trabalhos pregressos, cujos nomes pouco dialogam entre si, mas que a contemplação oferece algum sentido. “Tratores da Roma x Pistões do Méier”, “Ágata” e “O Monge Pierrot e o Náufrago Nupcial”, foram territórios e personagens conceituais. Um arquipélago com ilhas de litorais complementares, habitados enquanto inventados, que só agora com o afastamento de quem visita nosso satélite, compreendidos. Afinal, as viagens começam quando terminam.
As “fases” desta migração carregam em comum o desejo de se estar entre a pintura e o desenho. Entre o delicado do papel – em que negociamos sua saturação ligeira com a crucialidade de gestos – e as possibilidades quase infinitas que a tinta óleo e a técnica da marmorização oferecem. Entre a precisão e a gestualidade, entre o caos e a ordem e entre a afirmação da planaridade e o truque do volume, traçaram-se mapas. Tabuleiros de gamão, labirintos e padronagens lentamente arredondaram-se, sugerindo órbitas e feminilidade.
Sloterdijk (2016) nos remora que na entrada da Academia de Platão um aviso saudava os geômetras e desaconselhava o ingresso daqueles que não o fossem. É conhecida a presença de um segundo alerta. De que se afastassem os indispostos a viver casos de amor no interior do jardim dos teóricos, ou seja, aqueles que se desviam da imanência de Eros não estariam aptos ao entendimento da história das formas como um romance.
Disso também tratam as “Guirlandas”. Lua é um lugar e alguém que partiu na pandemia. Um luto vivido no recolhimento do atelier, que aportou esféricos amuletos de adeus, lembrando que em tudo sempre há um lado luz e outro sombra. E que quando curvadas as superfícies todo fim é um recomeço – tal qual fênix. Conquistamos na proporção do abandono. Problemas ainda prospectos para o íntimo do pintor.
Cadu, meio-dia no ano do Tigre
Agradecimentos: André Monteiro e Maíra Nascimento